Prosa dos Ventos

Estou a sobrevoar a paisagem rodeada de árvores a ouvir os sons subir  filtrados pelo ar a mirar pequenas figuras que se cruzam no andar sem saber quem são ou onde querem chegar Está um tempo abençoado uma ligeira brisa agita-me o pensamento sem o despentear Como é bom olhar a simplicidade do mundo sem a tentação de o complicar

Foto: Alda Carvalho Sentada numa pedra junto ao regato que escorre da serra sinto-me o plátano tocado pela brisa da tarde Os murmúrios da água compõem o silêncio Estou rodeada dos primordiais elementos e sinto-me una com a água   o sol e o vento O tempo pára apenas a música vinda dos fundos do tempo sopra aos meus ouvidos E tudo é verde   azul e transparência

Água pura vinda da serra Agua com toque de seda Água a descobrir caminhos Água a cortar a dura pedra Água a compor o silêncio Água a ausência de mim Água a nossa casa primeira Deito-me à sua beira rodeada de serra sob um céu baixo O seu sussurro assalta-me sussurro que é chamamento silêncio em mim A Água me envolve   e me sintoniza a Água é um presente sempre renovado Água à superfície Água sob o chão Água fria   Água quente Água natural Água mineral Água pura sempre                                      *Unhais da Serra  

Aqui   a serra majestosa o céu mais perto                                           o olhar mais longo urzes   giestas e tojos prendem as ranhuras das pedras como laçadas coloridas na relatividade das coisas efémeras as flores eternas as pedras imutável o espírito da montanha e a saudade das alturas que sempre me acompanha