Aqui onde nasci sinto-me no topo do mundo Carvalhos e bolotas, penhascos e pedras soltas foram outrora os meus brinquedos e a minha imaginação Construí castelos e muralhas rebanhos com seus pastores e redis saltei de alegria ao ver passar o comboio na trincheira abaixo de mim As minhas memórias andam por aqui à deriva As pedras arredondadas pelo tempo abrem o portal da minha recordação esculturas construídas por mãos de mistério que me fascinam e inspiram A serra protectora envolve o casario cosido entre pequenos vales verdejantes O frio e o vento adensam o mistério do lugar aonde voltam meus passos Árvores perfiladas e despidas parecem espectros perdidos na bruma O rio com rápidos a escorrer espuma quebra a rudeza da paisagem rebanhos salpicam o verde e o cinza E o comboio atravessa as memórias e leva-me de novo à doçura da infância