Prosa dos Ventos

A rosa amanhece plena de luz quando decepada em breve fenece pura fragilidade dourando um momento No vasto roseiral logo outra rosa em botão aparece uma nova promessa de deslumbramento Uma rosa só é só um momento no roseiral inteiro está o firmamento

Naquela madrugada de Abril um grito soltou um pássaro verde que cruzou o infinito nasceram estrelas mil como ecos desse grito É tempo de interrogar as canções que se calaram os sonhos que se esfumaram as portas que não se abriram É urgente procurar reunir    reinventar os ecos daquele grito

Somos sementes apenas fragilidades suspensas arrastadas pelos ventos Trocamos possibilidades com todos os seres humanos e não humanos na eterna dança cósmica onde entrelaçados estamos À deriva por vezes andamos amarrados por fortes correntes que nós próprios nos pusemos tolhidos por medos inúmeros que não nos deixam ousar Vamos deixar entrar o vento novo sacudir as velhas crenças aprender o desprendimento enxergar a luz do Amor essa subtil presença que nos circula por dentro e todas as coisas abraça Mergulhando na sabedoria pura alcançaremos níveis de consciência onde o milagre assoma E sementes germinadas diferentes e entrelaçadas seremos rebentos audazes e capazes de transformar o mundo agradecidamente

A tarde crescia calma e fria tangendo silêncios sobre os vales abismais de rios em confluência Tudo era profundo e denso claro e baço ao mesmo tempo e em todos   os rumos imenso Os   rios confluentes envolviam todos os seres e sentimentos irmanando–os em perfeita harmonia Naquele entardecer calmo e frio em voo acompanhado fui pássaro   singrando suavemente   numa preciosa dança e nas evoluções sintonizadas leves e estonteantes vi o mundo de forma diferente

À beira do abismo onde o silêncio proclama uma limpidez total uma presença ausente imaterial agita-se num enigma que de encantamento se desprende Uma presença que é chama sob a forma de uma fenda ou de um portal numa dança flutuante que atrai e prende num intervalo de tempo sem igual