A montanha nunca se repete *


Em Trento a montanha quase nos sufoca

embrenhamo-nos nela

atravessamos dobras que o tempo moldou
vemos em posição vertical
o que começou por ser horizontal
pegadas de dinossauros acordam-nos para o passado
onde montanhas já foram mar e o rio já foi glaciar

A montanha é tormentosa e protectora
grandes pássaros em voo planado
percorrem o espaço entre nós e o céu
desfiladeiros profundos ladeiam o caminho
figuras fantásticas recortadas nos cumes
quais génios petrificados   mascarados 
a qualquer momento parecem ganhar vida

vales perpendiculares descerram
outros níveis da montanha
que se multiplica em planos sucessivos
de  longes e de alturas
nesgas de azul realçam as nuvens
que a montanha embala nos braços   

Em direcção a Bonzan a montanha adoça-se
casas sobem a encosta 
a natureza explode em flores
num mar de amarelo e verde salpicado de outras cores
por vezes os vinhedos ganham a paisagem

súbito moldam-se assustadoras alturas
e o céu desaparece

A montanha nunca se repete

*Alpes Italianos




Comentários

  1. As descrições das montanhas não acabam, e é sempre possível contar história que o tempo ainda não apagou.
    Depois vem a paisagem natural,actual cheia de beleza,cuja descrição parece um quadro pintado.

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  2. Como será viver a vida toda a olhá-las, tê-las como paisagem natural. Eu, que tão pouco vi dos alpes, senti-me ínfima, esmagada pela grandeza. E tu descreveste-as sem medo, enfeitaste com palavras a densidade crua, essa beleza espantosa e terrífica que nos exaure.

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  3. A montanha é bela e é medonha. Impõe-se e impõe-nos respeito. Sentimo-nos liliputianos. Abomino andar de teleférico. Curvo-me à beleza das montanhas, embora não conheça essas que referes.

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