Prosa dos Ventos

as plantas carecem que com elas se fale darão mais flores serão mais viçosas as plantas cobrem de luz qualquer solidão precisamos de rosas como de água e pão ao cuidar de uma planta estamos a louvar a criação celebrar a beleza do mundo numa singela oração

no meio da tormenta o medo e o sofrimento descem sobre nós cresce o desamparo sentimo-nos sós pedimos socorro aos deuses ao universo   a uma ideia ao sol ou a uma só flor a qualquer fonte que nos devolva o norte um ombro ou um suporte que nos conforte no meio da bonança abrimos todas as janelas as portas   os portais esquecemos as fontes descerramos horizontes sentir que não somos sós que há um qualquer fio acompanhante na caminhada invisível   por vezes frágil mas que em certos momentos se faz presente torna a gratidão urgente

a nossa casa o nosso ninho nossa protecção é também prisão ânsia de liberdade saudades de chegar a casa saudades de sair dela contradições que nos pertencem   estamos onde nunca estamos porque sempre desejamos estar noutro lugar estamos no presente sempre a olhar o passado ou o futuro sem perceber que no presente está o passado e o futuro ao mesmo tempo assim vamos vivendo a vida desfocadamente

Encaustica: Alda Carvalho  há pessoas que nos espantam que nos enternecem pelos gestos generosos que desprendem como se a vida fosse só respiração e os outros o seu destino há pessoas que passam pela vida sem alarido heróis anónimos de muitas vidas o arrimo os olhos cheios de esperança nas mãos um pássaro verde um raio de sol no sorriso há pessoas que   em   tempos de escuridão mesmo rodeadas de dor todos os medos superam e esquecidas de si constantemente reinventam os modos de dizer o amor