Se eu pudesse*

Foto: Alda Carvalho

 



Se eu pudesse ter um pedaço de mar 

para me sentar à beira …

 

Trocava o denso ar que se concentra

dentro destas paredes que me acorrentam 

pelo alento do respirar da brisa 

que transporta a frescura da água


Trocava a limpeza urgente e constante  

dos objetos e das mãos 

pela vastidão dos espaços abertos 

onde o vírus não gosta de morar


Trocava o barulho infernal  

de carros arquejantes a subir a encosta

pelo estrondoso quebrar das ondas

 de encontro às rochas em espuma desfeitas

 

Se eu pudesse ter um pedaço de mar 

para à sua beira sonhar…





                                                                            * Poemas da prisão (confinamento absoluto por contacto de alto risco)


Comentários

  1. Prementes desejos de evasão confinados à liberdade de pensar e sonhar.
    Tempo, apesar de tudo, com fim à vista e a beira mar à espera. Ficar-te-á gravado na alma e na memória. E sabiamente partilhado na escrita.

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  2. São brilhantes as palavras para descrever a situação.
    Sensações de liberdade e de prisão bem impressas neste poema.
    Privação de liberdade uma experiência obrigatória não desejada para sempre recordar.
    Oportuno este poema.

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  3. Bem...se forem todos como este, o lápis voou livre. Para nosso contentamento.

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