Prosa dos Ventos

  Foto: Alda Carvalho * Recordo com enorme admiração as cidades de Ouro Preto e Mariana suas construções oitocentistas suas igrejas forradas a ouro seus anjos e santos barrocos suas pedras  suas minas as histórias dos seus escravos e a forma como os descendentes vivem a sua origem sem ressentimentos e  registo o romance  malfadado do malogrado Alferes Tiradentes                                                                                                                                                      ...

  Foto: José  Carvalho*                                                                                  Encontrei-a em Belo Horizonte no Parque da Liberdade andando ao de leve na chuva em seu jeito de serena humildade mas de intrínseca dignidade   trazia nas mãos uns poemas como pássaros a esvoaçar seus versos impregnados do viver da gente simples que com pouco se ajeita   embora de mãos quase vazias mas com o coração cheio de alegria seus sonhos feitos do azul da liberdade dos pássaros e com íntimo amor e gratidão    Liberdade  palavra arredia nestas paragens ficamos na dúvida se existe ou é apenas  saudade que as penas existem e persistem ...

  Foto: Alda Carvalho   Pedras escuras   sobressaem no espaço  linhas puras de pura beleza   Rochedos poisados na areia areia que já foi rochedo e voltará a ser rocha   Tudo vai e volta como um antigo segredo A onda que bate na areia ou na arriba   como é bela A brisa a perpassar tudo acalma e é bela também Em suma  em toda a parte  há beleza  se conseguimos observar   Observar é orar é constatar a maravilha da criação é desvelar a beleza que existe em qualquer lugar como lugar de salvação    

  Foto: Alda Carvalho queremos dos outros a perfeição mas somos tolerantes com os nossos defeitos mais que perfeitos   vemos o argueiro nos olhos dos outros mas nos nossos  nem uma trave que o nosso caminho entrave  

                                                      A simples tela pintada a aguarela revela muito mais do que está nela   Vemos a harmonia das pinceladas de cores do arco-íris pintadas o céu no seu lugar em certo poente e o mar refletindo o envolvente mas o que ela não revela é que foi executada por uma mulher dita deficiente que usa as cores  sem as saber nomear   Há mistérios que nos tocam por acaso e não sabemos interpretar somente olhar e pasmar como o rosto  da mãe dessa mulher tão doce e tão sereno de aceitação e agradecimento por toda a vida que passou cuidando da eterna criança que lhe coube em sorte   Mas isso são vestígios que nem a morte será capaz de apagar