Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) II
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Foto: Alda Carvalho |
O passeio ao longo do canal levou-nos até ao lago Michigan que contornámos até ao Millennium Park. Aí ficamos deslumbrados com a escultura de Anish Kapoor ,“Cloud Gate”. Eu chamar-lhe-ia a Bolha ou a Gota. É uma enorme estrutura espelhada que reflete tudo à volta, o céu, os edifícios e nós. Mas o reflexo é deformado e toma diferentes configurações consoante passamos por debaixo, andamos à volta, nos aproximamos ou afastamos. Tudo muda. Estamos ao mesmo tempo no nosso lugar e na escultura, magicamente!
Aquela bolha pode ser uma metáfora para a vida. Naquela bolha estamos todos nós. E cada um é também uma bolha para os outros. A bolha tudo distorce e tudo é: uma nuvem, um espelho, as nossas ilusões, o que quisermos…. Podemos colocar todas as perguntas, a bolha responde.
E tive a mesma sensação que tive em África, muitos anos atrás. Que as desigualdades são sublinhadas pela cor da pele, que as vozes dos escravos surgem até nós dos fundos do tempo e nos interrogam, tal como a indiferença.
Aqui encontro os contrários a todo o momento: a ostentação, o luxo desmesurado, a jactância, a pobreza, a sordidez. Mas ao mesmo tempo o povo americano é descomplexado na relação humana, no modo de vestir, no modo de estar...
Os arranha-céus são magníficos vistos à distância e na frontaria, mas nas traseiras há os horríveis saguões e nos seus profundos há os sem abrigo a dormir por entre o barulho e a poluição dos motores. E dei-me conta que afinal todos temos os nossos saguões…
Foto: José Martins Carvalho *https://maps.app.goo.gl/YHbQCdhQTnFaNUJt8 **https://maps.app.goo.gl/di8UPNxEt83PEwqYA |
Muito bonita essa lágrima mundana que tudo espelha - e deforma.
ResponderEliminarAs fotos são belíssimas - a segunda é um espanto. Se calhar, os que vivem nos saguões não ficam assim tão deslumbrados e olhando a Bolha como metáfora da vida não se vêem projetados nela. Mas é uma escultura linda.
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