Recordações de viagens (Açores) I
| Foto: Alda Carvalho |
Estou sentada num miradouro secreto vendo e ouvindo o mar à
minha volta com o seu azul plúmbeo tocando o horizonte onde converge com o azul
claro do céu.
Pequenas nuvens navegam nas alturas enquanto a agitação do mar
junto às rochas vulcânicas, de um negro acinzentado ou violáceo, explode e
forma esteiras de espuma.
Do meu lado esquerdo a montanha, onde se aninha o forte de
S. João Baptista, construído por Filipe 1º de Portugal, recordando a posição de
defesa que desempenhou desde essa altura. Do meu lado direito as casuarinas
escondem a continuação da costa.
Uma das casuarinas que trepa pela encosta protege o
miradouro onde me encontro, da vista dos olhares dos poucos passantes que vêm
caminhar no estreito caminho junto ao mar.
Tudo é belo, bondoso e puro como se estivéssemos perto do nascimento do mundo, livre dos problemas que preocupam os humanos: poluição, aquecimento global, desigualdades sociais, vírus…
Os confrontos de opinião não
têm aqui lugar porque não é lugar para opiniões, é apenas lugar para estar e
contemplar.
Ontem viemos de S. Miguel, o pequeno avião que nos trouxe
subiu para o ar já tinha anoitecido, mas acima das nuvens havia ainda o
horizonte rubro do por do sol e uma luminosidade quase irreal. As nuvens abaixo
do aparelho tinham o ar de um mar encapelado, paradoxalmente parado, e o que sobressaía
era essa cercadura em tons de arco-íris que parecia não ter fim.
A certa altura
apareceu o Pico, negro, enquadrado por esse arco-íris enrubescido.
Hoje está um dia belíssimo na Terceira, com sol e quase sem vento, vejamos o que nos reserva o resto da viagem. Nos Açores as várias estações do ano podem juntar-se num instante!
Um amigo Açoreano levou-nos a dar uma volta pela ilha, de carro claro! Dá-se uma volta à ilha num instante! Sobressaem as casas com faixas coloridas. Angra do Heroísmo é Património da Unesco e com razão! Desprende-se da cidade um encanto, uma harmonia, uma suave beleza que enternece.
O monte de Sta Bárbara é o ponto mais alto da ilha e dele partiram escoadas lávicas que modelaram a ilha juntamente com o oceano e o passar do tempo. Fomos aonde a escoada desceu até ao mar vinda de pequenas aberturas da montanha.
Agora desce a pique, abrupta e os seus pés são banhados
por espuma. O mar é de um azul plúmbeo e a vegetação é mais densa por cima
dessa lava recente. Abismos que os pássaros visitam e em cujas margens
nidificam.
| Foto: Alda Carvalho |
Que anelante e desejada visão essa, Alda. Ainda desconheço a ilha Terceira. Pode que inda a visite. Ficam as descrições. Mas é como diz Virgílio, por mais que as palavras se aproximem e digam, vivem da sua incompletude, estão sempre aquém da realidade; também elas expressam um desejo de ser que nunca é. Contudo o teu "ser em parte" inspira, como se digas que há na ilha a harmonia desejada na vida e que a alma humana, nessa contemplação, "ajoelha e ora" como pela tardinha sentia Florbela. Muito bela a tua descrição.
ResponderEliminarBom Fim de Semana
Correcção: Vergílio
ResponderEliminarO teu texto é maravilhoso. Consegues dar-nos a ver e sentir a beleza dessa paisagem inegualável em território continental. Adoro essa insularidade da bela Angra tão cheia de história e de brio rodeada desse mar azul plúmbeo, dessa vegetação exuberante e de marcas geológicas que nos apontam a sua formação. Não esqueço o Algar do Carvão. Obrigada por partilhares connosco essa tua visão da ilha.
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