Recordações de viagens (Açores) III
Santa Maria I, 2020
| Foto: Alda Carvalho |
Ilha, que visito pela primeira vez com calma. Já lá tinha
estado anos antes, mas tinha poucas recordações. Desta
vez está a surpreender-me, talvez pelos seus grandes abismos e as suas densas
florestas, mas também pela variedade de paisagens em espaço restrito.
A floresta tropical (criptomérias, plátanos, incenso,) tentam
trepar pelas encostas à procura de luz e as trepadeiras enleadas em igual procura, servem de ataduras de umas árvores às outras. Dentro
da floresta quase não se vislumbra um raio de luz.
As casas, de arquitetura tradicional, organizadas em pequenos povoados, brancas, com listas coloridas e chaminés imponentes, à maneira do Alentejo. Nada fora do lugar perturba a harmonia da paisagem. Nada parecido com um papel, um plástico, ou qualquer peça de lixo, os olhos se deparam.
Em contrapartida há flores por todo o lado. Estamos no tempo das açucenas (meninos vão para a escola, assim conhecidas nestas ilhas) e das rosas, e das contreiras, e são imensas a debruar o caminho e a subir as encostas. E as hortênsias, já em fase de avermelhamento, mas ainda com flores jovens esbranquiçadas e azuis. Os bons-dias são a principal trepadeira a enlear as árvores e formam lindos lençóis verdes brilhantes com pontos azuis violeta.
Cada curva do caminho nos revela surpresas, a morfologia
é muito movimentada e as estradas serpenteiam as várias formas.
Há muitas ermidas nos topos das colinas e até uma localidade chamada Fátima.
Numa dessas ermidas contei 150 degraus com belos azulejos descrevendo a vida
de N. Senhora e a paixão de Cristo.
Vila do Porto, a principal povoação, só tem um hotel decente, pequenino, Charing Blue, e foi nele que ficámos.
As pessoas são muito simpáticas e não há ainda nenhum registo
de Covid nesta ilha.
Alugámos um carro e fomos almoçar à baía de S. Lourenço virada a este. A encosta a pique apresenta
muitos socalcos onde em alguns se cultiva ainda a vinha. Outros já foram
abandonados e a vinha coexiste com outro tipo de vegetação. O dono do
restaurante deu-nos a provar o vinho dessa encosta parecido com um abafado mas sem
fortificação.
O tempo também varia quase de minuto a minuto. Chegámos com
chuva e vento a parecer inverno. Ontem apenas alguns chuviscos, hoje ainda não
choveu e de manhã esteve mesmo quente. Voltámos ao mesmo restaurante de ontem
na baía de S. Lourenço, As lulinhas grelhadas e os camarões com alho de ontem
foram óptimos . Hoje a sopa de peixe não me agradou muito, os rissóis eram de
atum e o ananás não era grande coisa… Mas a baía é sempre magnifica!
Uma cagarra, ou
gaivota, anda por aqui de uma ponta à
outra da baía com seu voo elegante e o mar sempre a desfazer-se em espuma e a
lamber os rochedos junto à costa no seu som apaziguador.
Que bela crónica, Alda. E tal como te acontece, a beleza dos Açores acontece e surpreende: é dádiva inesperada por mais que nela se espere.
ResponderEliminarUm abraço
Mais uma ilha a relembrar pela tua mão! que bela crónica. Bem diferente, esta ilha. Lembro-me bem do fabuloso parque florestal e de uma exposição que lá vi sobre os ataques dos piratas.
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