Meditação à beira rio
O rio é um apelo e uma porta
neste universo transverso
Águas apressadas
transportam equilíbrios
inconstâncias
ondulação
espuma
cintilação
silêncio...
Desligo a mente
e navego em sentido contrário
à mesma velocidade da corrente
Sentada no ancoradouro
sinto-me deslizar
em contra corrente
e deixo-me levar
O tempo pára
não sei quanto tempo
Fito a margem
a serra estática
novamente a corrente
já não sei o que é real
e o que é aparente
Olho para o chão que piso
de mensagens de amor cravejado
será o amor imenso
relativo e absoluto
ao mesmo tempo
Se haja um homem que a entenda, toda a natureza é mensagem de amor. Que, sem ele, é só natureza que não sabe que é: não tem nome, o rio desconhece que é rio e que corre, a serra permanece, fixa na sua imobilidade incognoscível. E tudo é falta de sentido. Mas estás tu, ponto de interrogação a etiquetar o mundo. E ainda bem que estás.
ResponderEliminar"As mensagens de amor cravejadas" fazem-me lembrar os cadeados sobre as pontes que atravessam os rios, que encontramos por toda a Europa, nessa tentativa de tornar absoluto o sentimento do momento, tendo como testemunha essas águas de corrente e contracorrente que nos levam a meditar sobre nós, a natureza e a vida. E esses pedacitos de ferro, separados do seu lado metafórico, cintilam um estranho ridículo que cruza e interrompe esse inspirado e profundo pensar sobre as coisas essenciais. A mim já me aconteceu.
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