Bilhete postal do Gerês


Ontem choveu desalmadamente chuva intensa ritmada
os brilhos e cores da paisagem embaciados pelo cinzento
de um céu baixo e nevoento

Hoje o sol descerra a paisagem tornando-a luz encandescente
os brilhos e as cores endoidecem
Estou acima das árvores  espetadas na vertente escarpada

Ontem o som da madeira a crepitar
e a chuva a bater no telhado
marcavam o ritmo das horas

Hoje o silêncio rasgado pelo som  vibrante e prateado
da cascata a despenhar-se das alturas
captura o tempo e o pensamento

Ando mais uns passos  e num recanto encontro-me
a sobrevoar a paisagem  no Penedo da Freira  
sento-me no seu sofá de pedra revestido a musgo

Apetece permanecer neste fluir constante
Um passarinho junta agora o seu canto
É manhã  Gloriosamente manhã

Contemplo ao longe a albufeira da Caniçada
a vedar este vale repleto de árvores  de abismos
e de água desgovernada a correr  por todo o lado 

Uma paisagem alvoroçada a serenar-me a alma

Comentários

  1. Que nome se poderia dar a esta descrição paisagística?
    Somente bilhete postal. Realmente a descrição é magnífica e encantadora, mais parece um quadro pintado com tantos pormenores que o tornam tão belo.

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  2. Obrigada pelo bilhete postal com a fulgurante paisagem de um lado e a descrição do vivido do outro. São intemporais a celebração e exaltação da natureza, mas raramente temos o privilégio de sentir essa glorificação in situ. E a alma enche-se de júbilo e serena-nos. Uma maravilha da vida. Bem-haja.

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  3. É poesia mas podia ser prosa. Uma redenção depois da chuva. A força que tem a natureza! E o tanto que em nós por ela e nela se ilumina.
    Faz-me bem saber de ti assim próxima do eterno.

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