Caos granítico


Foto: Alda Carvalho



Andar de bicicleta numa linha

que o comboio trilhou outrora

ouvir o deslizar sobre os carris

como uma velha canção de embalar

o granito em caos toda a viagem 

 

são os penedos da minha infância

que noutro lugar a natureza me traz

nutro por eles tamanho encanto

um misto de deslumbramento e paz

a natureza na sua agreste beleza

impiedosa e amena num só tempo

presenteada neste momento

 

rochas agrupadas em caótica imagem

de onde em onde uma casa

com uma ou outra árvore às janelas

mínimas nesgas de hortas ou o que foi delas

são inúmeros pontuados na paisagem

tumultos de pedras soltas como derrocadas

enigmáticas e belas


 




 





Comentários

  1. É maravilhoso o que a nossa memória faz com associações instantâneas que vai buscar às suas gavetinhas lá de trás e cruza com algo que nos surge no momento presente.
    Às vezes produz um sentimento gratificante, outras vezes doloroso.
    O poema faz-nos partilhar a tua alegria das boas memórias de infância e a descrição que fazes dessa tua viagem é tão vívida que parece que a estamos a fazer contigo.
    Vemos o granito e não há caos na tua alma, mas sim serenidade.
    Muito bonito.

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  2. Tudo que é tocado pela/na infância ganha vida e cor diferente, até as inorgânicas pedras. Bem adivinho onde foi esse passeio:). Mas, aos poetas, dá-lhes Deus outro condão, Cervantes lá sabia dos gigantes a que dava luta. E tu sabes que essas não são pedras comuns, mas lembranças de outras que em ti moram e fazem o teu chão.

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