Saua Saua*


Foto: J. Martins Carvalho







Saua Saua

há palavras que encerram um poema

paraísos perdidos no meio do nada

paraísos esquecidos

que resistem ao tempo e ao abandono


a baía quase fechada

por areia branca e fina

faz o mar parecer um lago imenso

de tons azul esmeralda

com laivos de aurora ou de por do sol


pequenos barquinhos pescam sonhos


vislumbra-se a serra ao longe

como uma miragem de inselberg

as árvores mergulham os pés na água

e miram-se nela

os coqueiros saltam da paisagem

com os cabelos penteados pela brisa

o silêncio é rasgado pelo canto dos pássaros

e por linguarejares de gente colorida

transportando água de um qualquer mistério


o tempo parece parado no tempo


deixo que a paisagem me permeie

que os sons suaves me afinem

que a brisa me acaricie


agarro a placidez do lugar

a calma e suavidade dos passos

o sorriso constante que me relaxa


atraem-me as gargalhadas das crianças

as piruetas   o chapinhar na água

o sorriso nos olhos grandes que não pedem nada


há paraísos perdidos no meio do nada

há gente que nos espanta

há como ser feliz sem nada





 *Moçambique

Do meu livro “Sopros de Alma”, 2011, Editorial Minerva

                                                                


Comentários

  1. "Gente feliz sem nada". Ou com tudo. Talvez tenham consigo o segredo que importa, a alegria de existir. Simplicidade que já perdemos.
    Bom fim de semana, prosa.


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  2. É um poema muito bonito. Transmite paz, beleza, num tempo "parado no tempo". É como se nos transportássemos para esse lugar e víssemos a baía, os coqueiros, os barcos que pescam sonhos - que imagem linda! - a cara sorridente das crianças. Pintas um quadro vivo.

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