Depois do presídio o paraíso*

 

Foto: Alda Carvalho




Como é bela a liberdade

mas só quando a perdemos

verdadeiramente o sabemos

Passar do inferno ao paraíso

pode ser apenas uma porta

que depois de transposta

nos permite voar

 

E assim eu voei

não em louca subida 

mas em voo picado

numa lenta descida

à Fajã dos Padres

um jardim do Éden

biblicamente desenhado

 

árvores  flores e frutos

pequenos animais

naquele momento era tudo meu

vinhas  papaieiras

mangas  bananeiras

abacates alecrins

aves do paraíso  jasmins

 

lagartixas tomando sol

ébrias das virtudes do lugar

perseguindo-se contentes

um ratinho do campo

a desvendar migalhas

mesmo junto aos meus pés

sem calafrios a percorrer-me a espinha

pelo contrário até o incentivei

 

era  tudo de uma bondade

tão serena e perfeita

sem qualquer mácula

a discordar

naquele pedaço de terra

entre dois infinitos

definidos na perpendicular

 

vertical a falésia apontando o céu

horizontal o mar  outro infinito

 e eu no ponto fulcral

uma pequenez total

contemplando o momento inicial

em toda a sua grandeza

e  beleza singular

 

É possível passar do inferno ao paraíso

por via dos contrastes

sair do presídio para a liberdade

maravilhar com as mais preciosas

vibrações do cosmos

admirar o céu e o futuro

com todas as suas possibilidades

 


                                        

                                                       *Poemas da prisão (confinamento absoluto por contacto de alto risco)


Comentários

  1. Foi um presídio. E difícil de sofrer. Mas olha que poemas bonitos nos deixou a todos. Esse renque de estrelícias até parece o meu, é que nem lhe falta a teia de aranha:). O paraíso é mais ele depois de um inferno.
    Bom fim de semana.

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  2. Que lindas aves do paraíso. Gosto muito da descrição dessa perpendicular e é esplendorosa essa alegria e crença no futuro. Depois da grande provação, a claridade!

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