Há música no ar
Foto: Alda Carvalho |
Há música no ar
É setembro. Caminhamos no leito de um antigo
glaciar. Um ribeiro jovem percorre agora o ancestral caminho. Outros caminhos
de água vão ao seu encontro. O sussurrar da água a descer a encosta tece várias
melodias com requebros de notas variadas que o declive adoça ou acentua.
Num troço pouco inclinado as águas quase param e tornam-se transparentes formando
uma pequena lagoa.
A luz incide mais doce, as sombras mais longas,
os tons mais frios. É o por-do-sol a chegar. Uma orquestra sinfónica começa a tocar.
Um pastor antigo vergado ao peso da sua manta,
feita da lã das ovelhas que foi apascentando ao longo das vidas, conta as suas
origens ancestrais guiado pelo sete-estrelo. Fala do seu percurso lendário e
dos mitos daquela terra. A música da orquestra e do ribeiro acompanha o seu contar.
Quando a magia de um lugar é contemplada e
acompanhada com a humana arte o mundo torna-se um lugar mais-que-perfeito.
Muito bonito o teu mais que perfeito. Às vezes há assim confluências de elementos. E não é despiciendo que tenhas sido nelas uma antena. já o afirmava Sophia.
ResponderEliminarÉ pena que "o mais que perfeito" esteja a acabar. As pessoas que integram esses lugares ancestrais estão em extinção e toda a beleza que neles existe e que tão bem descreves parece prevalecer tranquila, na sua musicalidade, sem se importar com alguns veraneantes citadinos que aparecem de quando em vez. A tua prosa poética casa bem com essa "música no ar".
ResponderEliminar