No silêncio da catedral*

 




Foto: Alda Carvalho





Entro na catedral

fugindo à vozearia dos automóveis

e ao frenesim da via principal

 

no interior do templo

a beleza das ogivas e das colunas espiraladas

e o silêncio enclausurado

cortado pelo marulhar da água na pia batismal


há um crente em oração

um turista fotografa e partilha comigo

o maravilhamento que o assalta

  

num inesperado cantar

a  pia batismal  símbolo de purificação

de fluir sereno  de renovação

é um íman que me atrai


estridente silvo de ambulância

arrepia o silêncio e súbito se esvai

o sereno fluir da água estremece

mas o caos da cidade permanece além




* Glasgow (antes da pandemia)

 

 

 

 

Comentários

  1. Curiosamente, independentemente da religião, os templos são lugares de paz e convidam-nos a ficar, a contemplar a sua beleza, mesmo que austera, a desfrutar daquele silêncio que nos confere tranquilidade. Há muito que o fazem, sentimos que o continuarão a fazer, por muito tecnológico que seja o mundo cá fora. Refúgio e abrigo, mesmo que as sirenes soem. Assim como o teu poema tão bem realça. Às vezes a mão do homem destrói-os.

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  2. Os templos são redutos de silêncio e recolhimento. Não interessa a que Deus se consagram. É o desejo da humana transcendência que leva o homem a construir e contemplar.
    Boa semana, prosa.

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  3. A beleza e o encantamento das palavras que descrevem o ambiente dentro da catedral são arrepiantes.A descrição e a sensação é magnífica.

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