Nada me pertence


                                                                        Foto: Alda Carvalho




O que ouvi ou vi ou toquei

o que li o que vivi

quem amei

já não sei se foi meu

se o roubei

 

Nada me pertence

cada vez mais o eu e o meu perdem sentido

Revoadas de palavras caiem-me nas mãos

como pétalas desfeitas

ou folhas de outono já sem cor

mesmo as pérolas de orvalho na madrugada

perderam esplendor

 

Com as pétalas caídas refaço uma flor

ou um ramo com folhas desfolhadas

que requero orvalhadas

mas já não é a mesma primavera amor

nem os outonos dourados

apenas apontamentos expirados

apenas rumores já passados

 

 

 

 

Comentários

  1. Podem ser "rumores já passados", mas fazem mais belos os teus poemas; neles, os "rumores" brilham e dizem de ti.
    Tão linda a foto.~
    BFS

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  2. Nada nos pertence, de nada nem de ninguém somos donos. Mas essa capacidade de fazer e refazer coisas aparentemente simples, sejam flores ou ramos ou afetos, como a que possuis, é mesmo um dom. O despojo da posse afigura-se uma vitória. Mais do que perda é sabedoria. E as viçosas florinhas da foto testemunham a perenidade das primaveras.

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  3. Sinal de sabedoria essa dissociação do «eu» e do «meu». Com profundo sentido poético. Belíssima e encantadora fotografia. S+R

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