Convento de Nossa Senhora da Penha*

Foto:Alda Carvalho


 

Meus olhos rasos de espanto

na subida ao morro com o convento no topo

as rochas que o definem são do princípio do mundo

a mata atlântica que o cobre

convive bem com os arredondados penhascos

 

meus olhos rasos de espanto

pela pureza do ar

pelas cores e formas das rochas

 a beleza de insectos e outros animais

e o sombreado das árvores a cortar o calor

 

a subida é lenta

pela dificuldade e pelo esplendor

aprecio cada tronco cada ramo

cada flor cada entrelaçamento

dos mais variados seres

 

meus olhos rasos de espanto

pelo elegante convento quinhentista

elevado nos mais altos rochedos

há uma missa a decorrer a seus pés

e a encimá-lo o bailado dos pássaros

 

abutres a fazerem acrobacias

com as correntes de ar ascendente

são às dezenas a subir e a descer

a manobrar com o vento

param a descansar na base do convento


há uma pena de abutre na escadaria

apanho-a e levo-a comigo

talvez desta vez consiga uma foto

para ilustrar um poema antigo

do tempo em que quisera ser pássaro

 

à volta é tudo um deslumbramento

esbatem-se as mazelas do espaço

que os homens adulteraram

e sinto-me a sobrevoar a paisagem

como os pássaros

 



                                                                                                                 * Vitória, E.S. Brasil

                                                                                           

Comentários

  1. Um indiscutível planar da tua alma que em prosa diz o verso.
    BFS

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  2. Como sempre o retrato com palavras é magnífico.
    A fotografia traduz-se com o esplendor das palavras.
    Por vezes penso que não haveria palavras para poder descrevê-la.
    Mas as palavras existem e eis a prova cujo deslumbramento está presente na magia das palavras.

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  3. Maravilhoso, sublime cântico de exaltação. Sente-se o teu deslumbramento em cada verso. Que poema lindíssimo!

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  4. Sem palavras para traduzir o encantamento que este poema transmite

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  5. Perscrutando esses «olhos rasos de espanto» conseguimos sentir a beleza alada do convento e da vida que o rodeia.

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  6. Há um pássaro que nos habita, subtilmente, como um espanto e com ele vamos nas, asas de um desejo irreprimível de ousar ser, sermos de mãos dadas, aprendendo com ela um cântico novo🕊️☀️🌻

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  7. E eu que fui ao Brasil e não vi esta maravilha !!!
    Está tudo dito, só lhe falta o som mavioso e melancólico de uma musalma no acordeão.

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