O grito dos escravos*
Foto: J. M. Carvalho |
Entrar na mina
ter a sensação de ser escravo
caminhar nas estreitas galerias
escasso espaço entre o corpo e a rocha
claustrofobias
sentir que a dor está ainda ali
saber estar debaixo do chão
não ver quase nada
escuridão
alumiada por mínima lamparina
lembrar as picaretas
encarniçadas contra a dura rocha
e as lascas a voar
contra os olhos dos escravos
que assim cegavam
saber do corpo a arder
do esforço ou do medo
e pingas frias a cair
sobre o corpo nu
como lâminas aceradas
saber que a ração seria cortada
se o ouro não chegasse às gramas estipuladas
as mulheres faziam as telhas nas coxas
e peneiravam o ouro nas bateias
eram pelo patrão amiúde cobiçadas
e o escravo não poder fazer nada
ir morrendo aos poucos
mas mesmo cego ou decepado
teria de trabalhar até ao fim
saber que os seus filhos teriam a mesma sorte
e não saber se o melhor seria a vida ou a morte
QUERO SAIR DAQUI !!!!!!! DAQUI!!!!!!! DAQUI!!!!!!!
não sei se o grito é meu se é dos escravos
se o grito é de agora ou do passado
*Ouro Preto-Minas Gerais-Brasil
É o grito de sempre, o infindo grito do sofrimento que humilha quem não tem voz e se expande em desespero gutural.
ResponderEliminarA descrição é perfeita.
ResponderEliminarSentir o que não se vê,mas imaginando a dura vida da escravidão,feita de suor e lágrimas para que outros beneficiem do trabalho dos escravos sempre foi grande injustiça no passado.
A descrição é perfeita.
ResponderEliminarSentir o que não se vê,mas imaginando a dura vida da escravidão,feita de suor e lágrimas para que outros beneficiem do trabalho dos escravos sempre foi uma grande injustiça do passado.
Sofrimento eterno, o inferno na terra, em movimento descendente, até à exaustão final. Triste sina que ainda hoje ensombra a vida de muitos. A construção, a estrutura do poema sublinha a mensagem. Muito impactante.
ResponderEliminarQue bom saber de visitantes que não se quedam pelo turismo, antes vão encontrando a humanidade universal ! S+R
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