O que desejamos abraçar

Foto: Alda Carvalho

                                                                                        

Não somos ilhas

embora pareçamos

Cercados de gente

por vezes não vemos ninguém

e agimos como seres solitários

 

Se alguma réstia de luz nos atiça

preconceitos amarram-nos

medos mal interpretados também

e existem disfarçados egoísmos

que geram abismos

 

Estamos sós e infelizes

faltam-nos as palavras

os gestos as ideias

falta-nos desprendimento

das coisas dos outros e de nós

 

Neste  mundo de acção

falta-nos a contemplação

neste mundo líquido

falta-nos a espinha dorsal

 

 Falta-nos saber com precisão

pelo que lutamos

o que desejamos abraçar

por o que daríamos a vida afinal



























Comentários

  1. Foto particularmente elucidativa.
    Lindíssimo.
    E tão verdadeiro que até dói ...

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  2. Um ser alado num mundo líquido. É a tua foto. E a pequena gaivota contempla. Contemplar e agir têm exigências diferentes. É difícil gerar consensos à volta de ideais. É ainda mais difícil estar disposto a dar a vida por ideais. Desejar abraçar é bom. Lutar para abraçar é mais complexo. Cada ser humano tende a ser ilha, parece-me. Abençoada seja a tua garra de lutar por um mundo melhor.

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  3. No tal mundo do agir, a maioria de nós - onde me incluo - não é heróica, não se imagina sequer a dar a vida por algo ou alguém, cessando para todo o sempre. Pode ser que, num repente circunstancial, nos surgisse um acto heróico, mas sem premeditação. Porém, contemplativa e retoricamente falando, somos capazes de dar a vida por amor. De filhos, pais, amantes...
    Desde sempre precisámos dos outros, somos gregários por natureza, mas também temos âmago de ilha secreta, parece-me até que esse magma alimenta a força gregária.
    Bom domingo, Prosa

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