Floresta mágica
Foto:Alda Carvalho |
O cansaço e a inquietude
rondam à minha volta. É tempo de uma caminhada. De uma procura de silêncio em
mim.
É Outono. Um novo ciclo. Tempo
de recomeço.
Interno-me na floresta. As árvores,
esses seres quase eternos que nos contemplam, estão em renovação. Há imensas e
variadas: choupos, plátanos, pinheiros, carvalhos, eucaliptos… Umas já se
encontram quase despidas, outras ainda verdejam claramente e, outras ainda
estão vestidas de um colorido intenso. Há folhas por todo o lado que o vento
arranca, revolve, levanta, faz rodopiar, e projeta para outros lugares,
arrastando-as pelo chão ou pelos ares.
Sou atraída por uma árvore colossal
com um imenso tapete de folhas coloridas a seus pés. Talvez, ali, muitas
crianças se tenham sentado á volta, ouvindo longas histórias. Sento-me também
recordando a infância. As folhas são de um colorido arrebatador. Todas as
cores do arco-íris se misturam em vários formatos e tons: verdes, amarelos, alaranjados,
carmins, violetas, castanhos, entrelaçando-se ou fundindo-se. O sol atravessa os
espaços entre os ramos conferindo ao conjunto uma luminosidade mágica.
Uma chuva de folhas faz coro
com cada aragem mais forte. O vento toma-as nos braços, eleva-as, fá-las
rodopiar, e deixa-as cair no chão, para de novo as retomar na dança.
O silêncio é suave, doce e
cheio de mistérios. Apurando o ouvido sente-se um leve restolhar. Sussurros
apenas. Afastando as folhas descubro numerosos insetos e outros seres visíveis.
E suspeitos invisíveis. Por debaixo daquele manto tecido de folhas coloridas, há vida a fervilhar.
Um melro, inconfundível no seu
bico amarelo e na sua negra plumagem, vem-me visitar, mas rapidamente se afasta,
sobressaltado por um restolhar de folhas mais forte.
Um pequeno esquilo, todo
espanto, espreita junto ao tronco, olhos inquiridores, assustadiços, e logo
corre a esconder-se.
Sinto uma ternura
enorme por esta árvore. Levanto-me e a abraço-a como ente querido de que não me
quero separar. Olho para cima e enxergo pequenos retalhos de céu.
Na floresta, tu és uma pequena Alice que atravessou o espelho. Sim senhora, não te conhecia os dotes da prosa. Estão à vista:)
ResponderEliminarBom Fim de Semana
Ah! Se todos nós de vez em quando, fossemos capazes de dar um abraço !!!
ResponderEliminarUm abraço a uma árvore (que pode ser abraçada de qualquer lado ...), a uma pessoa, a uma ideia, a uma decisão, como a vida de todos nós seria bem melhor.
É um prazer ler a magnífica discrição desta floresta com todos os seus pormenores que aparentemente ninguem se apercebe mas afinal tem uma vida intensa.
ResponderEliminarE as árvores,esses seres maravilhosos cuja sombra nos refresca no Verão que atrai aves e insetos e nos dão os seus frutos que nos é insencial para a nossa alimentação e saúde.
Que falta nos faz o contacto com a natureza, a caminhada pela floresta. Tantas vezes sufocamos emparadados entre o cimento da cidade, sem o consolo e a alegria do verde esperançoso das árvores e das plantas e o convívio com as aves e outros seres que aí se acolhem. Há lugar para nós, mas, sem o notar, afastamo-nos e perdemos o equilíbrio. Ainda bem que o sabes manter.
ResponderEliminarO seu belo ensaio lembra-me o poema «O lenhador» de Catulo da Paixão Cearense .Disponível na net. Lembro o início:
ResponderEliminarUm lenhador derribava
as árve,sem percisão
e sempre a vó le dizia
meu fio : tem dó das árve,
que as árve tem coração.
O
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