Só quem conhece pode amar
Foto:Alda Carvalho |
No mundo em que vivemos
somos esquivos a vários vibrares
e a consciência das coisas
é muitas vezes superficial
O mundo é maravilhoso
em inúmeros sentidos
mas não vemos as coisas
nem o sentido
Nos passeios que damos
não nos detemos
e estamos a milhas
dos nossos passos
Conhecemos a beleza das paisagens
através de fotos nas redes sociais
Sabemos da glicínia da buganvília
ou doutras plantas
que através da sua beleza
ou da sua pujança nos gritam
mas passamos indiferentes
perante um dente de leão
de uma pervinca duma giesta
ou de um simples caracol
Confundimos as árvores
sabemos que são altas que dão sombra
mas não nos detemos na dança dos seus ramos
ou no canto dos pássaros que as habitam
Há uma cegueira selectiva
em relação a aspectos da natureza
embora usemos a palavra preservar
sem a ligarmos a conhecer e amar
O fecho do poema dá todo o sentido à restante exposição, de si também bela. É fechar com chave de ouro.
ResponderEliminarQuando sabemos o nome de pessoas ou coisas elas passam a existir. De facto conhecemos pouco a natureza e por isso pouca atenção lhe prestamos. A não ser aquela que está em nosso redor, pela qual somos diretamente responsáveis - as flores que regamos, por exemplo. É assim que agimos com o que se passa no mundo. A ligação virtual não cria afecto. Dela nada fica em nós ou nos prende pelos sentidos. Tão lindo o dente de leão.
ResponderEliminarBelíssimo poema e foto mimosa e inspiradora.
ResponderEliminarEu fui educado em ambiente urbano e "mea culpa", dou pouca atenção aos detalhes da natureza.
Espero que não me aconteça como com a saúde e felicidade que só quando as perco é que lhes dou importância.
Muito grato, Alda, pela oportuna e justa chamada de atenção.
Quanto gosto do que escreves quando o escreves.
ResponderEliminarBem verdade, "embora usemos a palavra preservar/ não a ligamos a conhecer e amar". Ainda hoje não sei se amar é conhecer. Filosoficamente falando, não são termos idênticos. Humanamente, diria que quem ama conhece de forma especial; o conhecimento do afecto marimba-se na frieza do conhecimento a que a ciência chama objectivo (ou o mais objectivo possível), digo mesmo ser coisa que pouco lhe importa. Mas, se não seguirmos também a ordem dos afectos, aquela que mais fundo nos prende ao mundo e aos outros nele, não sei o que sucede. A razão, está provado, engana-se muitas vezes e não há força como a do afecto, cuja, por seu lado, não tem par nos seus enganos. O mundo das emoções não é simples e nem apenas dualista e tem força de quase instinto. Talvez Platão tenha visto bem e a vida humana seja um carro puxado por dois cavalos (dos do seu tempo, não é um dois cavalos do séc XX) correndo à desfilada à beira do abismo e cada um puxando para seu lado (razão/emoção; alma/corpo). Na vida, cada homem conduz o seu próprio carro e a tarefa - nada simples - é conseguir equilibrar a força dos dois cavalos de forma a que o carro não saia do trilho, precipitando-se no abismo. Parece-me que o respeito pela natureza e mundo em geral advêm deste equilíbrio. Que é intencional e se interessa. Repara. Vai além do simples olhar.
Bom Dia do Trabalhador, Alda