Só quem conhece pode amar


Foto:Alda Carvalho




No mundo em que vivemos

somos esquivos a vários vibrares

e a consciência das coisas

é muitas vezes superficial


O mundo é maravilhoso

em inúmeros sentidos

mas não vemos as coisas

nem o sentido

 

Nos passeios que damos

não nos detemos

e estamos a milhas

dos nossos passos

 

Conhecemos a beleza das paisagens

através de fotos nas redes sociais

 

Sabemos da glicínia  da buganvília

ou doutras plantas

que através da sua beleza

ou da sua pujança nos gritam

 

mas passamos indiferentes

perante um dente de leão

de uma pervinca  duma giesta

ou de um simples caracol

 

Confundimos as árvores

sabemos que são altas que dão sombra

mas não nos detemos na dança dos seus ramos

ou no canto dos pássaros que as habitam

 

Há uma cegueira selectiva

em relação a aspectos da natureza

embora usemos a palavra preservar

sem a ligarmos a conhecer e amar

 


Comentários

  1. O fecho do poema dá todo o sentido à restante exposição, de si também bela. É fechar com chave de ouro.

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  2. Quando sabemos o nome de pessoas ou coisas elas passam a existir. De facto conhecemos pouco a natureza e por isso pouca atenção lhe prestamos. A não ser aquela que está em nosso redor, pela qual somos diretamente responsáveis - as flores que regamos, por exemplo. É assim que agimos com o que se passa no mundo. A ligação virtual não cria afecto. Dela nada fica em nós ou nos prende pelos sentidos. Tão lindo o dente de leão.

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  3. Belíssimo poema e foto mimosa e inspiradora.
    Eu fui educado em ambiente urbano e "mea culpa", dou pouca atenção aos detalhes da natureza.
    Espero que não me aconteça como com a saúde e felicidade que só quando as perco é que lhes dou importância.
    Muito grato, Alda, pela oportuna e justa chamada de atenção.

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  4. Quanto gosto do que escreves quando o escreves.
    Bem verdade, "embora usemos a palavra preservar/ não a ligamos a conhecer e amar". Ainda hoje não sei se amar é conhecer. Filosoficamente falando, não são termos idênticos. Humanamente, diria que quem ama conhece de forma especial; o conhecimento do afecto marimba-se na frieza do conhecimento a que a ciência chama objectivo (ou o mais objectivo possível), digo mesmo ser coisa que pouco lhe importa. Mas, se não seguirmos também a ordem dos afectos, aquela que mais fundo nos prende ao mundo e aos outros nele, não sei o que sucede. A razão, está provado, engana-se muitas vezes e não há força como a do afecto, cuja, por seu lado, não tem par nos seus enganos. O mundo das emoções não é simples e nem apenas dualista e tem força de quase instinto. Talvez Platão tenha visto bem e a vida humana seja um carro puxado por dois cavalos (dos do seu tempo, não é um dois cavalos do séc XX) correndo à desfilada à beira do abismo e cada um puxando para seu lado (razão/emoção; alma/corpo). Na vida, cada homem conduz o seu próprio carro e a tarefa - nada simples - é conseguir equilibrar a força dos dois cavalos de forma a que o carro não saia do trilho, precipitando-se no abismo. Parece-me que o respeito pela natureza e mundo em geral advêm deste equilíbrio. Que é intencional e se interessa. Repara. Vai além do simples olhar.
    Bom Dia do Trabalhador, Alda

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