Ao romper a madrugada


Foto: Alda Carvalho

                                                            




Nas horas labirínticas da noite

oiço os teus passos

escrevo palavras sem nexo

ao acaso e sem significado

ou com sentido escondido

rascunhos do presente e do passado

guardados nas sílabas amarguradas

 

Ao romper a madrugada

aliso as palavras enrugadas

e dou-lhes nova vida


Comentários

  1. Que palavras tão lindas e bem alisadas. Lembrei-me da canção "Ao Romper da Bela Aurora" (...) "muito padece quem ama/ mais padece quem namora/ Vem o pastor da choupana/ao romper da bela aurora". Abracinho.

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  2. Tanta dor e tanta esperança , para mim, neste poema

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  3. Tenho uma audição extravagante, oiço passos que, é mais que certo, não existem senão em mim; oiço-os nos seus tiques perfeitamente identificáveis, sei a quem pertencem e estão sempre a fazerem-se próximos. Surgem-me diurnos e completos, certificam-me a presença que não se mostra. Vai-se a ver e os que ouves - embora nocturnos - são também isso: presença, certeza de companhia. Escreves para eles e para ti as palavras rendadas da saudade, essa infinita renda de bilros, nó sobre nó, que a memória tece e com que enfeita a vida. Há momentos sem nexo, mas a memória traz também isso. O que subsiste é a recuperação bonita do que fomos e nunca deixaremos de ser enquanto formos. Talvez por isso "os róseos dedos da aurora" te guiem a alisar as palavras descobrindo-lhes sentido.
    Um abracinho

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  4. Por vezes o Universo entra em caos e de todos os lados parece chegarem estímulos contraditórios e desencontrados. Nestas alturas, a melhor companhia é a esperança. Porque tudo tende ao equilíbrio e ordem. Hoje, estou à espera, como as suas palavras desalinhadas. de uma nova vida.
    Bens haja, Alda.

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