Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) (V)

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Foto: J. M. Carvalho




Estou no Observatory Car do comboio. A planície é infinda e vem desde Chicago. Quase deserta de gente e dos seus artefactos. Uma ou outra ave cruza os céus muito de vez em quando.

Ueds, com as margens abruptas e o seu leito seco, onde raras árvores estoicamente crescem. Uma árvore pequenina de longe em longe ousa romper o deserto como a demonstrar a possibilidade do impossível. Já atravessámos vários Estados e vários fusos horários.

O deserto do Colorado é imenso na imensidão da planície. Amanhece. O céu começa a tingir-se de cores cada vez mais luminosas. Vacas dispersas levantam os olhos mansos para nós. Passamos comboios de mercadorias em andamento, que parecem não acabar. O nosso cavalo de ferro avança infatigável a 130Km/h.

Passamos em Santa Fé, um túnel a 2500m de altitude nas Montanhas Rochosas. Há pedaços de neve entre as árvores, embora esteja sol. A temperatura exterior é de - 8 graus centígrados. O céu está azulíssimo. A paisagem humanizada é caótica, com muito lixo e sucata à mistura, casas na maioria pré fabricadas, rulotes e fracas condições, pelo menos na aparência, excepto nos carros de grande cilindrada que estão á porta.

A paisagem é monótona. Tudo é monótono no seu grande tamanho. As pequenas povoações e mesmo as grandes (estas poucas) são apenas casas isoladas com sucata à volta (frigoríficos, carros , charruas, utensílios vários, pequenas construções degradadas. Tudo é cinzento. O lixo acumulado, deixado ao acaso, triste como nódoa na paisagem. É Inverno de resto e as árvores despidas e cinzentas comungam da mesma tristeza.

Comentários

  1. Eu gosto de viajar de comboio. Nunca experimentei os de grande velocidade mas poderei ser cliente, sobretudo como substituição do avião.
    A viagem de comboio que mais me encantou foi em Angola, entre o Lobito e Nova Lisboa, no século passado, claro.
    Carruagem luxuosa, com as mordomias dos ingleses e velocidade muito baixa, que deu para admirar tudo com detalhe.
    Enfim ... outros tempos.

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  2. O comboio que tem o observatory car é afinal a modernidade limpa do progresso e da técnica atravessando o caótico da paisagem, uma redoma móvel que vê sem tocar, mas te tocou fundo. Gente que vive rodeada de lixo tem que ter alma diversa.
    Bom fim de semana, Alda
    E até terça:)

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  3. Grata pela.partilha, muito interessante

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  4. Uma viagem de respiração lenta, pensamento borbulhante e olhos arregalados, suponho. Que descrição tão ilustrativa dessa terra monótona e triste. Viajamos contigo nesse comboio, observamos tudo isso em pormenor e refletimos.

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