As ondulações da raiva*


Foto: Alda Carvalho





Estou aqui  dentro desta prisão

a pensar nos paradoxos da existência

e em todos os seus rumores

sinto as ondulações da raiva

 

Pressinto que escrever me acalma

escrevo o que me vai na alma

se o acontecido não pode ser removido

tirar partido da situação é a solução

 

Penso nos sem abrigo

nos esfomeados de pão e de amor

nos torturados

na imensa dor que grassa em muitos lados

 

Observo que até sou favorecida

não estou doente  tenho comida

uma cama  um teto

e até tenho o amor comigo

 

Começo a respirar melhor

a raiva a encolher-se

a injustiça a parecer menor

 

 


                                                                                              *Poemas da prisão (confinamento absoluto por contacto de alto risco)


Comentários

  1. Memórias de um tempo que passou. E ainda bem.

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  2. La lectura y la escritura proporcionan libertad incluso a los presos . En este caso, tu poema combinado con una gran inteligencia emocional te ha permitido salir airosa de esta aventura.
    Es un ideal de vida tener aventuras y poderlas contar felizmente.! Enhorabuena¡

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  3. A escrita como libertação! Pelo menos, apaziguadora de tempos de impotência. És indubitavelmente uma privilegiada, pois nem todos têm esse dom...

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  4. Uma série de verdades e soluções podem ser o melhor remédio para este problema.
    Escrever com tanta clareza e garra e definir tão bem a situação que me ocorre dizer: muito bem.

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