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Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) (X)

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10 Foto: José Martins Carvalho Vindos de Las Vegas fomos ao Dead Valley . Um deserto  rodeado de montanhas escalvadas. Espantoso, assustador, mas belíssimo no seu horror! Aqui o horrível torna-se belo pela sua grandiosidade. Não há vida visível e o vale está coberto de sais brancos, o salar . Parece neve. Um lago e um rio branco e as montanhas de várias formas a rodeá-los. O próprio salar a certa altura forma um campo de lapiaz devido ao vento e às diferenças de temperatura. Vimos dois coiotes ruivos que nos olhavam como a pedir comida. Eles não precisam de água porque a vão buscar aos pequenos animais que caçam. Foram os únicos seres vivos visíveis. O Vale vai-se afundando a níveis abaixo do nível médio das águas do mar (- 85,6m) as montanhas vão subindo relativamente ao vale que vai descendo ao longo das falhas.  Tanto a vista do vale para as montanhas como das montanhas para o salar é espantosa. Nas montanhas vimos uma ponte natural e cataratas fósseis....

Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) (IX)

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9 Foto: Alda Carvalho Las Vegas, a Meca do prazer em geral e do jogo em especial, um contraste ultrajante com a natureza. Nada aqui me atrai. A noite é toda ela luzes, cintilações, fausto, barulho, opulência acintosa e pobreza de espírito. O nosso resort, West Gate , é um mundo com tudo lá dentro, desde o casino, as lojas, o hotel, os parques de estacionamento.  E há os outros arranha-céus à volta e lá está outro Trump. Barulho sonoro e visual ensurdecedores. Fico no quarto, enquanto o Zé e o Tiago vão ao congresso. O meu quarto fica no 14º andar. O hotel tem 30 andares e várias torres. Vejo outros arranha-céus e o monocarril. Os parques e as árvores são minúsculos no meio das torres e dos parques de estacionamento com inúmeras latas a brilhar ao sol. À roda as grandes montanhas.  Ah! o hotel tem magníficos quadros em aguarela com o tema do tango. O quarto é bonito, amplo e confortável. Saio um pouco do hotel e deparo-me com publicidade aos espetáculos e ao jogo. ...

Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) (VIII)

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  8 Foto: José Martins Carvalho                                              Não muito longe da maravilha natural que é o Antílope Canyon, uma estação de energia térmica a carvão vomitava fumo pelas chaminés. O nosso mundo cheio de paradoxos! Uma beleza natural inigualável, uma natureza quase pura, próxima daquele monstro industrial!... E os índios empurrados para aquelas terras desérticas, eles que eram agricultores e trocavam produtos com povos pescadores… Sobra-lhes aquele pedaço de Natureza pura. O território é fértil em contrastes de marcas humanas, feias, caóticas, lixeirosas, e de belezas naturais quase puras. A Pata de Cavalo que um meandro do rio Colorado desenhou durante milénios, também é muito bonita, mas nada que se compare com a espetacularidade do Grand Canyon.  Quer em beleza quer em dimensão, é tudo tão imenso! A primei...

Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) (VII)

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7 Foto: Tiago Carvalho A viagem passa agora a ser de carro alugado, rumo ao Grand Canyon. À saída de Flagstag, a montanha com o topo a escorrer neve em contraste com o seu negrume e outros montes de outras cores, enchem-nos os olhos e o coração. A paisagem é desértica com indicação de reserva dos índios Navajos. As formas dos arenitos são surpreendentes atravessados por uma estrada retilínea mas tudo menos monótona.  O primeiro objectivo, o Antílope Canyon , um canyon talhado por um afluente do Colorado e onde se pode entrar. As formas talhadas na rocha ao longo de 100 metros e uns 10 de altura, deixam-nos extasiados... Imaginamo-nos envoltos num turbilhão de água, rodopiando e talhando, como golpes de goiva, cavidades cilíndricas que evoluem em espiral retorcidamente e se entrelaçam numa dança frenética e esvoaçante. A luz vinda de fora que não encontra caminho na vertical, ou a encontra raramente, desenha figuras de luz nas paredes e no tecto das rochas circularmente torturadas...

Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) (VI)

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6 Foto: Alda Carvalho Sucedem-se paisagens planas de deserto com montanhas longínquas e florestas a bordeja-las. Ervas secas, cinzentas e tristes mais próximas. Isto depois  de passarmos as pradarias, os grandes espaços abertos cavalgados por manadas de antílopes, uma ou outra raposa para olhos espertos, e os carros a rolar, quando a estrada se aproxima de nós. Tudo cinzento e talvez, por causa do sol, um leve amarelecimento… Vamos parar em Albuquerque. E a mesma paisagem lixeirosa continua. Estamos nos EUA mas a paisagem urbana é semelhante à de um qualquer país do terceiro mundo. Em Albuquerque o comboio parou pra abastecimento e imediatamente descendentes de índios montaram barraquitas para venderem bugigangas. Comprei um anel original com turquesas esverdeadas. Fomos ver o por do sol no Observatory Car mas não foi nada de especial porque as sucatas e o próprio comboio no-lo vedavam.  Foi breve e descorado. Curiosamente a montanha atrás de nós, até aí cinzenta e desnudada ...

Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) (V)

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  5 Foto: J. M. Carvalho Estou no Observatory Car do comboio. A planície é infinda e vem desde Chicago. Quase deserta de gente e dos seus artefactos. Uma ou outra ave cruza os céus muito de vez em quando. Ueds, com as margens abruptas e o seu leito seco, onde raras árvores estoicamente crescem. Uma árvore pequenina de longe em longe ousa romper o deserto como a demonstrar a possibilidade do impossível. Já atravessámos vários Estados e vários fusos horários. O deserto do Colorado é imenso na imensidão da planície. Amanhece. O céu começa a tingir-se de cores cada vez mais luminosas. Vacas dispersas levantam os olhos mansos para nós. Passamos comboios de mercadorias em andamento, que parecem não acabar. O nosso cavalo de ferro avança infatigável a 130Km/h. Passamos em Santa Fé, um túnel a 2500m de altitude nas Montanhas Rochosas. Há pedaços de neve entre as árvores, embora esteja sol. A temperatura exterior é de - 8 graus centígrados. O céu está azulíssimo. A paisagem humanizad...

Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) (IV)

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4 Foto: Alda Carvalho O duplo entusiasmo de entrar e de apanhar o  sucedâneo do comboio mítico, o Grande Expresso  de Chicago a los Angeles, onde viajaram os grandes actores de Hollywood, empolgou-nos. Dei o braço a Frank Sinatra e o Zé a Marilyn Monroe e embarcámos rumo a Flagstag. Viajámos de dia no  Observatory Car , todo envidraçado e com poltronas paralelas às paredes de vidro. Assim a paisagem desfilava toda à nossa frente como um filme inesgotável. A  Roome t que fazia de beliche onde dormíamos é que era, sobretudo a parte de cima, onde eu fiquei, bastante claustrofóbica e apertada. No comboio a diversidade de gentes era imensa. Uma família de Quakers , ocupava o que parecia ser uma grande sala no fundo da carruagem, mas mal se viam. Elas com as toucas à leiteira de Vermeer, os seus vestidos compridos com saias pregueadas de boa fazenda e as crianças, entre as quais um bébé, que se comportava como os nossos, chorando o desconforto. Eles com o cabelo cortado re...

Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) (III)

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3 Foto: José Martins Carvalho                                                                                                             No Parque Millenium além da Cloud Gate  podemos admirar outra esculturas ao ar livre.  The Art Institute of Chicago é um mundo em que nos perdemos. Como todos os museus não se vê num dia, mas é um lugar de momentos profundos no contacto com diferentes formas de arte. Comprámos um livro com as principais obras para recordar e ver de novo as que não conseguimos ver naquela visita.   O restaurante a que fomos tinha um ar acolhedor e um cheirinho retro. Impecável, com comida excelente a contrastar com o fast food. E...

Recordações de Viagens - E.U.A. (Dez. 2016) II

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 2- Foto: Alda Carvalho O passeio ao longo do canal levou-nos até ao lago Michigan que contornámos até ao  Millennium Park.  Aí ficamos deslumbrados com a escultura de  Anish Kapoor  ,“ Cloud Gate” . Eu chamar-lhe-ia a Bolha ou a Gota. É uma enorme estrutura espelhada que reflete tudo à volta, o céu, os edifícios e nós. Mas o reflexo é deformado e toma diferentes configurações consoante passamos por debaixo, andamos à volta, nos aproximamos ou afastamos. Tudo muda. Estamos ao mesmo tempo no nosso lugar e na escultura, magicamente! Aquela bolha pode ser uma metáfora para a vida. Naquela bolha estamos todos nós. E cada um é também uma bolha para os outros.    A bolha tudo distorce e tudo é: uma nuvem, um espelho, as nossas ilusões, o que quisermos…. Podemos colocar todas as perguntas, a bolha responde. E tive a mesma sensação que tive em África, muitos anos atrás. Que as desigualdades são sublinhadas pela cor da pele, que as vozes dos escravos surgem até...